De acordo com o verso 1 do Yoga Kuṇḍalinī Upaniṣad – a atividade de Citta ou psique tem duas causas, o movimento de Vāsana, ou impressões latentes, e o movimento de Vāyu ou Prāṇa. Se um deles está ativo, o outro também está. Igualmente, se um deles é influenciado, o outro também será.
Estes são os focos primários, dentro dos princípios e práticas, do Rāja Yoga em torno de Citta, e do Haṭha Yoga em torno de Prāṇa. Em termos de práticas primárias comuns a ambos, nós temos Prāṇāyāma.
No entanto, como acontece com Āsana, tanto dentro de Rāja Yoga quanto em Haṭha Yoga (um tópico para um post futuro), existem diferentes prioridades no viniyoga (aplicação) desta ferramenta primária comum.
Na abordagem Rāja Yoga, conforme delineado em textos como o Yoga Sūtra, a prática de Prāṇāyāma é focada em desenvolver e refinar os princípios de proporção, atenção, tempo e número de respirações.
Os frutos desta abordagem são uma redução na confusão (Yoga Sūtra II-52), e aptidão para os primeiros passos no processo meditativo (Yoga Sūtra II-53), na direção de cultivar uma experiência de ser preenchido com uma sensação sutil de quietude (Yoga Sutra I-3).
No entanto, nenhuma prática a respeito do trabalho com os aspectos contrastantes dos dois canais (īḍā e piṅgalā) é mencionada ou discutida.
Na abordagem do Haṭha Yoga, conforme delineada em textos como o Haṭha Yoga Pradīpikā, a prática de Prāṇāyāma é focada em desenvolver e refinar os princípios da utilização dos dois canais primários (īḍā e piṅgalā), através de uma variedade de técnicas para efetuar um Śodhana (limpeza de bloqueios) dos Nāḍī (canais do Prāna).
Os frutos dessa abordagem são uma intensificação do campo pessoal de Prāṇa, antes de se utilizar as ferramentas de Mudrā a fim de direcionar esta força de Prāṇa para romper o bloqueio no Suṣumṇā Nāḍī causado por Kuṇḍalinī.
Neste caso, temos uma situação muito mais ativa e potencialmente desestabilizadora. Portanto, as práticas de Haṭha foram desenvolvidas dentro de um ambiente de vida mais contido, muitas vezes em desacordo com o atual estilo de vida no meio do Yoga, em meio aos fluxos de detox/retox da moderna sociedade Ocidental.
Embora obviamente complementares, como afirmado na citação de abertura, devemos considerar nossas prioridades ao escolher cultivar a prática de Prāṇāyāma dentro da nossa prática pessoal ou aplicação profissional.
Seria ótimo se pudéssemos integrar os dois aspectos em uma única prática. Entretanto, meu palpite é de que juntamente com o Yoga Dhyāna (meditação do Yoga), Prāṇāyāma costuma ser a prática menos praticada e menos ensinada nos dias de hoje (qualquer conexão entre os dois?).
Dado que um aspecto (Rāja) está preocupado em estabilizar a mente, e o outro está preocupado com forçar (Haṭha) um fluxo através dos bloqueios (uma espécie de roto-rooter energético); e que muitos dos alunos hoje em dia estão começando ‘tensos e cansados’, com muito pouco tempo, energia ou aptidão para uma prática doméstica consistente, mesmo que não seja uma prática intensa, devemos levantar questões sobre quais são nossas prioridades.
Além disso, parece que antigamente era preciso estar em forma para iniciar o Yoga, e que hoje as pessoas começam a praticar Yoga para ficarem em forma. Igualmente, em tempos passados era preciso ser estável para iniciar o Yoga, ao passo que hoje vamos ao Yoga para ‘encontrar’ a estabilidade.
Então, por onde começar e como definir uma prioridade para onde ir?
Pessoalmente, sinto que nossa principal necessidade hoje para a maioria das aulas de Yoga é Rāja, ou estabilidade psíquica – em vez da versão mais popularmente percebida de Haṭha – para nos permitir ser mais habilidosos em nossas interações diárias.
Dado que as antigas práticas de Haṭha Yoga tinham uma prioridade bem diferente desta, e que talvez seja questionável dentro da sociedade de hoje, o único ponto de partida realista é o Prāṇāyāma conforme descrito no Capítulo Dois do Yoga Sūtra.
Outra vantagem de adotar essa abordagem, é que todos os aspectos preparatórios no cultivo desta arte maravilhosa podem ser aprendidos e refinados dentro da prática de Āsana.
Da mesma forma, libertando o aluno de todo o “mexer” com as narinas, muitas vezes em detrimento da qualidade da respiração e da atenção, a prática de Prāṇāyāma vincula o aluno aos aspectos mais refinados de Dhāraṇā (concentração) e Dhyānam (meditação) na medida que é uma prática sentada.
Esta era a prioridade, antes dos dias de Haṭha, como visto em textos como o Bhagavad Gītā, onde a estabilidade da mente através da meditação sentada era o foco (veja o capítulo seis apropriadamente chamado de Yoga de Dhyānam).
Claro, se o aluno abraçou este aspecto do Prāṇāyāma e tem tempo, energia e espaço psíquico para explorar e acomodar habilmente o que surgir dos bloqueios perturbadores, dentro das demandas e relações da vida cotidiana dentro de áreas como família, trabalho e ‘eu’… então ótimo.
Caso contrário, talvez, melhor do que não fazer nada, ou não sair do lugar, ou ficar imaginando como começar a meditar, aprenda como abraçar a respiração através de Āsana, e deixe que isso flua na direção de práticas sentadas onde o foco é a respiração consciente livre das complexidades e potenciais armadilhas de Haṭha.
Obviamente, aqui eu estou me referindo a Haṭha em seu sentido original, não à popularizada versão de trabalho corporal que muitas vezes é ‘vendida’ hoje sob o disfarce de Haṭha Yoga.
Texto original em inglês de meu professor Paul Harvey disponível em https://yogastudies.org/2015/02/pranayama-within-raja-yoga-and-hatha-yoga/