Śraddhā no Yoga Sūtra – parte 1

Este artigo, que será apresentado aqui nesta página em 2 partes, foi publicado originalmente por KYM Darśanam, em Agosto de 1995. Nele, TKV Desikachar fala sobre ‘Śraddhā à luz do Yoga Sūtra’ para uma audiência presente no Krishnamacharya Yoga Mandiram, em Chennai, sul da Índia.

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“Śraddhā é essencial para o progresso, seja no Yoga ou em qualquer outro empreendimento.
É um sentimento que não pode ser expresso ou discutido intelectualmente.
No entanto, é um sentimento que nem sempre está descoberto em todas as pessoas.
Quando ausente ou fraco, isso é evidente pela falta de estabilidade e foco na pessoa.
Quando presente e forte, isso é evidente pelo comprometimento, perseverança e entusiasmo que a pessoa demonstra. Para essa pessoa, a vida possui significado.”

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O Yoga Sūtra de Patañjali trata da mente. Ele examina as diferentes funções da mente e fornece meios para modificar essas funções para que ela sirva à pessoa de forma muito construtiva.

O meio pelo qual certas mudanças qualitativas na mente são produzidas é chamado de Sādhanā.
Também há a possibilidade de que certos indivíduos possam desenvolver uma mente assim sem esforço. Ou seja, as qualidades são inerentes a esse indivíduo e amadurecem por conta própria para se manifestar um dia na forma de algumas capacidades extraordinárias. No entanto, essas pessoas são poucas.

Para o resto de nós, essas mesmas mudanças são possíveis, mas é uma questão de tempo e prática. O resultado final é o mesmo, apenas o tempo necessário para alcançá-lo que será diferente.

Patañjali chama o primeiro caminho, onde a mudança ocorre sem esforço, de Bhava Pratyaya e o segundo caminho de Upāya Pratyaya. Upāya significa aproximar-se, seguindo as instruções do professor. Śraddhā é o principal Upāya.

Nesse contexto, Śraddhā é convicção. A forte convicção de que seremos ajudados ao seguir os meios especificados. Quando há Śraddhā, a pessoa não se decepciona ao não obter benefícios imediatos. Ela está certa de que é apenas uma questão de tempo e, por isso, os fracassos no caminho não reduzem seu entusiasmo ou seus esforços. Pelo contrário, onde Śraddhā é total, a pessoa dobra seus esforços e tenta novamente. Quando surgem dificuldades, é Śraddhā que fornece a energia para prosseguir.

A energia ou Vīrya, como é chamada no Yoga Sūtra, vem de dentro e tem Śraddhā como sua fonte.

Vyāsa, em seu comentário ao Yoga Sūtra, diz que Śraddhā é como uma mãe. Śraddhā protegerá a pessoa que a possui, assim como a mãe protege seu filho. Garantirá que a pessoa não se desvie. Enquanto a mãe está por perto, a criança está segura.

Muitas vezes, na vida, estamos em situações onde pensamos que estamos agindo da maneira correta, mas, na verdade, estamos enganados. Então precisamos de algo que nos proteja. É Śraddhā que nos protegerá.

Por meio de Śraddhā, obtemos Vīrya para persistir até o fim e, se nos mantivermos firmes em Śraddhā, sempre teremos Smṛti, a memória de nosso objetivo original. Isso é muito importante porque, com o progresso no caminho para o objetivo, nos distraímos ou nos satisfazemos com alguns dos ganhos obtidos que anteriormente não estavam dentro de nossa capacidade. É por meio de Śraddhā que temos Smṛti, a memória do objetivo original, que nos impede de nos contentar com algo menor do que aquilo que começamos a buscar.

A importância do papel de Smṛti pode ser vista pelo fato de que Patañjali dedicou um capítulo inteiro aos diversos poderes, chamados Siddhi no Yoga Sūtra, que podem ser adquiridos no caminho para o objetivo. Esses podem desviar a pessoa do objetivo original, que é a liberdade dos sofrimentos repetitivos (Duḥkha).

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O Sūtra sobre Śraddhā

  • Capítulo 1, verso 20

śraddhā vīrya smṛti samādhi prajñā pūrvakaḥ itareśām
Śraddhā leva a Vīrya. Se com Vīrya também houver Smṛti, então Samādhi é apenas uma questão de tempo.

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Samādhi é um estado de clareza onde a compreensão é sem distorções. Quando há essa clareza, não há Duḥkha. Esse é o objetivo do Yoga, e Patañjali afirmou que o primeiro passo para esse objetivo é Śraddhā, firme convicção.

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Níveis de Śraddhā

  • Capítulo 1, verso 21

tīvra saṃvegānām āsannaḥ
Para aqueles com forte intensidade, o objetivo é próximo.

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  • Capítulo 1, verso 22

mṛdu madhya adhimātratvāt tataḥ api viśeṣaḥ
Dependendo se a intensidade é fraca, média ou intensa, haverá uma diferença no tempo para alcançar o objetivo.

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O nível de Śraddhā em cada pessoa não é o mesmo. No caso de uma pessoa que tem Śraddhā muito forte (Tīvra Śraddhā), muito pouco tempo é perdido no progresso para o objetivo.

Às vezes, Śraddhā está presente, mas as circunstâncias impedem a pessoa de seguir a linha escolhida. As responsabilidades de cuidar da família podem impedir uma pessoa de dedicar mais tempo ao estudo do Yoga ou de qualquer outro assunto. É importante saber que Śraddhā não é medida pelo tempo gasto. É a qualidade do tempo gasto que é importante.

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Onde está localizada Śraddhā no ser humano?

Śraddhā não é uma parte da mente. Está além da mente. É Śraddhā que instrui a mente. Vem das profundezas ocultas dos Saṃskāras e Vāsanas para influenciar as ações de uma pessoa.

No Brahmānandavallī da Taittirīya Upaniṣad, o ser humano é descrito como tendo cinco aspectos: Annamaya, Prāṇamaya, Manomaya, Vijñānamaya e Ānandamaya. Nessa ordem, em um nível superior à mente está o Vijñānamaya. Śraddhā é a coroa de Vijñānamaya. Pode-se até dizer que é da mesma natureza que o Puruṣa.

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Śraddhā como Meditação

No Yogavallī, o comentário de T. Krishnamacharya sobre o Yoga Sūtra, Śraddhā é vista como um símbolo para uma meditação especial chamada Ahaṃ Graha Upāsana.

Aham é o “Eu”, Graha significa agarrar e Upāsana significa permanecer próximo. Quando uma pessoa deseja compreender a verdadeira natureza do “Eu”, isso é chamado de Ahaṃ Graha Upāsana.

Aham é a verdadeira identidade de cada um de nós, que nunca é afetada por todos os erros da vida e os defeitos a que somos expostos. É pura e livre de influências. Se uma pessoa puder tocar essa verdade, nada pode atingi-la.

Quando uma pessoa começa essa meditação, ela se afastará gradualmente dos defeitos de seu sistema e alcançará aquilo que é puro e livre de defeitos. Essa pessoa experimentará Ānanda e ficará intocada por todas as outras experiências.

Assim, meu pai, usando a Upaniṣad, apresentou Śraddhā como uma forma de meditação onde a pessoa tenta encontrar seu centro, Aham.

Ele também disse que essa meditação é muito difícil, especialmente nos tempos modernos. Uma solução mais simples é oferecida por Patañjali no Sūtra seguinte sobre Śraddhā:

  • Capítulo 1, verso 23

īśvara praṇidhānāt vā
Através da entrega a Īśvara.

Em vez de meditar no “Eu”, tenha fé em Īśvara e ofereça tudo o que fizer a Īśvara.

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Tenha Śraddhā em Īśvara. Então, nada que a pessoa faça a afetará, pois ela não age para si mesma, e vê Īśvara como o executor de
todas as suas ações.

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