Yoga como Visão, Prática e Ferramenta – Parte 2
Haṭha Yoga – Yoga e Prāṇa
Yoga como Alquimia – O Lugar e o Propósito de Prāṇa, Agni, Nādī e Cakra
Uma das ironias do papel e da identidade emergente do Yoga no Ocidente está relacionada ao termo Haṭha Yoga. Atualmente, esse termo é amplamente utilizado de forma genérica para identificar e agrupar práticas de Yoga baseadas em aspectos “físicos”.
Frequentemente, quando me perguntam “Que tipo de Yoga você ensina?”, há também a pergunta complementar: “É Haṭha Yoga?”.
A ironia, porém, está no fato de que, ao examinarmos o que realmente significa o Haṭha Yoga, percebemos que os elementos físicos são relativamente limitados, e poucos Āsanas são discutidos.
Além disso, entre os poucos Āsanas abordados, os mais importantes estão relacionados à prática de sentar, como uma preparação para elementos da prática que vão além do Āsana.
O propósito principal é criar as condições para sentar-se imóvel e, por assim dizer, ir além do corpo físico.
Nesse contexto, a principal preocupação e o campo de atuação dos praticantes de Haṭha Yoga estão relacionados ao corpo energético (Prāṇa) ou Prāṇamaya. Seu papel é ajudar a promover uma qualidade de “clareza” e “quietude” energética, que servem como degraus para apoiar a exploração de estados meditativos de ser no Rāja Yoga, ou Yoga do Samādhi.
O papel do Haṭha Yoga é, assim, conduzir o aluno em direção à Visão do Rāja e ajudar a canalizar a energia necessária para refinar essa visão.
É igualmente importante considerar as várias influências presentes no Ocidente, que moldaram o que conhecemos hoje como “Yoga Postural Moderno”.
Um risco evidente nesse cenário é a perda dos “princípios energéticos” que fundamentam o Haṭha Yoga. Isso ocorre porque a atenção das pessoas tem se voltado excessivamente para a fisicalidade, muitas vezes com influências até mesmo de práticas ginásticas.
Atualmente, a prática moderna de Yoga parece ser dominada pelo Āsana, e as palavras Āsana e Yoga, infelizmente, tornaram-se quase sinônimas.
Outra ironia interessante é que um número crescente de pesquisas sugere que o repertório postural e o estilo físico de desempenho são amplamente ocidentalizados, tanto em suas origens quanto em sua ênfase.
Essa constatação é ainda mais curiosa quando lembramos que um dos principais componentes dos ensinamentos de Haṭha Yoga é o Prāṇāyāma, um conjunto de práticas respiratórias.
Além disso, o papel do Prāṇāyāma no trabalho com a matriz energética do indivíduo é frequentemente negligenciado na prática de Yoga moderna.
O objetivo do ensino de Haṭha Yoga é utilizar os princípios e práticas energéticas inerentes às suas técnicas, como Āsana, Prāṇāyāma e Mudrā, para aproximar o aluno do Rāja Yoga.
O propósito final do Haṭha é preparar a mente para os rigores do Rāja. Este é frequentemente interpretado pelos comentaristas modernos como sinônimo da essência meditativa do Yoga Sūtra, que busca levar o praticante a uma maior consciência da mente e na mente.
Quais são, então, os princípios energéticos investigados no Haṭha Yoga? Alguns exemplos fundamentais incluem:
- Pañca Prāṇa (os cinco aspectos do Ar);
- Agni (o fogo digestivo);
- Tridoṣa (as características constitucionais);
- Dvadasa Nādī (os caminhos primários);
- Ṣat Cakra (os seis centros).
Um dos objetivos centrais do Haṭha Yoga é compreender como esses princípios energéticos podem ser utilizados como meios para alcançar a visão do Yoga como Samādhi, referida no Haṭha Yoga Pradīpikā como Rāja Yoga.
Por fim, surge a seguinte questão: até que ponto as diversas ferramentas (estilos ou abordagens) do Yoga envolvem, respeitam e aderem aos princípios da prática, de modo a contribuir para a realização da visão do Yoga?
Artigo de Paul Harvey, professor dos mantenedores do Shodashi Yoga, postado originalmente no site yogastudies.org.
Este artigo é uma continuação de ‘Yoga como Visão‘ disponível aqui.
Imagem: Siddhāsana and Padmāsana. Schmidt, Richard. 1908.